18. Clássicos na tela grande do Ipanema

Nem só de bang-bang vivia aquele cinema instalado no sobrado que também serviu de escola, tribunal do júri e foi palco para encenações teatrais. Na programação igualmente tinha os clássicos dos anos 1930, considerados por grande parte da crítica internacional como a melhor fase do cinema narrativo produzido em Hollywood, é o momento da história em que a arte das imagens em movimento se livra de todas as amarras que a prendiam ao teatro e a literatura e passa a se expressar através de uma linguagem própria, de uma gramática especifica, de um código novo no campo da narração de histórias ficcionais, todo baseado em imagens e sons.

Desta safra foram exibidos em Santana a primeira versão de “Laffitti, o Corsário” de 1938, dirigida por Cecil B. de Mille e com Fredric March, Franciska Gaal, Akim Tamiroff e Anthony Quinn no elenco. Esse drama histórico, com duas horas e seis minutos de duração, versa sobre o famoso pirata Jean Lafitte cujo apoio ao exército americano foi decisivo na guerra anglo-americana de 1812, um episódio sangrento da história dos Estados Unidos que durou três anos (1812-1815) e foi determinante para solidificar a jovem nação recém libertada do jugo inglês.

Este filme foi exibido nos dias 15 e 16 de abril de 1950.

“Adversidade”, drama histórico que condensou as 1.224 páginas do romance “Anthony Adverse” de Hervey Allen em 141 minutos de filme, dirigido a quatro mãos por Mervyn LeRoy e Michael Curtiz e novamente trazendo na frente do elenco Fredric March, desta vez fazendo par romântico com a inglesa Olivia de Havilland ao som da majestosa trilha sonora composta por Erich Wolfgang Korngold, foi outro grande êxito daquela época de ouro do cinema hollywoodiano exibido em Santana.


O memorável clássico do cinema fantástico “King Kong”, que inclusive teve remakes nos anos de 1976, 2005, 2017 e agora, neste 2019, é um grande sucesso como musical na Broadway, impactou os santanenses na noite do dia 6 de novembro de 1949. O filme dirigido a quatro mãos por Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack em 1933, apresentava uma nova forma de aventura cinematográfica que mesclava horror e ficção-científica. A publicidade chamava o macaco gigante que aterroriza Nova York de “a oitava maravilha do mundo”.


Fatura do filme "King Kong" exibido em novembro de 1949

O escritor francês Vitor Hugo teve várias de suas obras adaptadas para a tela grande, uma delas foi “O Corcunda de Notre-Dame”. Essa segunda versão cinematográfica (a primeira foi na era do cinema mudo, em 1923) do livro de ficção histórica foi feita em 1939, com Charles Laughton como o atormentado Quasimodo e Maureen O'Hara como a bela e sedutora cigana Esmeralda, dirigidos pelo cineasta William Dieterle, um alemão que migrou para os Estados Unidos no início dos anos 1930. Dieterle produziu uma iluminação minimalista, baseada em suas experiências com o expressionismo ainda nos seus primeiros anos de cinema na Alemanha, traduzindo em convincentes imagens toda a carga dramática do submundo medieval da Paris do século XV que permeia o romance de Victor Hugo.

Charles Laughton faz o angustiado corcunda Quasimodo

O departamento de arte dos estúdios da RKO era conduzido pelo arquiteto Van Nest Polglase e tinha como seu mais próximo colaborador o artesão Carrol Clarck. Ambos trabalharam em mais de uma centena de cenários para os filmes da RKO, inclusive o revolucionário "set" de “Cidadão Kane” filme divisor de águas dirigido pelo lendário Orson Welles. É dessa dupla os cenários dessa versão de “O Corcunda de Notre Dame”. Este filme, produzido pela RKO em Hollywood, foi exibido no Cine Ipanema nos dias 14 e 15 de outubro de 1950.

Outra superprodução de Hollywood neste período áureo que foi exibida em Santana foi “Cleópatra”, produzida e dirigida por Cecil B. de Mille. No papel da rainha egípcia que conquistou Roma estava Claudette Colbert, os cenários suntuosos deste épico (uma característica das produções de De Mille) foram desenhados por Roland Anderson e Hans Dreier. Filme exibido nos dias 5 e 6 de agosto de 1950.


O celebre ator inglês Boris Karloff que brilhou em Hollywood nos anos 30 e 40 interpretando personagens de filmes clássicos de terror e mistério, foi o principal nome do elenco de "Ilha dos Mortos", produção da RKO exibida em Santana em agosto de 1949.

Fatura da RKO referente ao filme "Ilha dos Mortos"

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